O Fenômeno Gourmet & Motociclismo

*Disclaimer: Este post tem como objetivo mostrar algumas situações observadas por mim, não é a intenção de identificar ninguém ou causar qualquer ofensa, porém algumas pessoas podem se identificar com situações específicas descritas*

O fenômeno Gourmet é algo que está em todo o lugar…. hoje praticamente em todas as cidades existem food trucks vendendo os mais variados tipos de comidas… mas se pararmos para observar, em alguns casos, são comidas banais a preços caríssimos.

Todo mundo já teve uma experiência de food truck, mas quando isto não recebia este nome….afinal, quem nunca comeu um pastel de feira que era frito na frente de uma Kombi?? E com um preço honesto….

Mas este não é um blog de comida….e sim de motociclismo… A analogia aqui é a respeito do mercado de motos usadas.

Acompanho semanalmente as paginas de vendas de moto online como o Webmotors e o Moto.com.br.  Praticamente vejo todas as motos anunciadas e tenho observado algumas coisas bem específicas:

1. Existe uma super-valorização das motos da década de 90:  Hoje em dia vê-se algumas motos com motor Evolution dos anos 90 a venda, com um absurdo preço que muitas vezes chegam ao valor de um modelo 2015 zero km. Alguns argumentos podem ser colocados aqui….e vou separá-los e justifica-los.

1.1 – As Evo são motos clássicas e é o motor que mais diz “HD” do que o Twin Cam – Sim e não. As Evolution são de fato motos clássicas, e o motor tem o tradicional som HD que estamos acostumados a ouvir (o famigerado “potato, potato, potato”). O TC de fato, perde um pouco desta característica, mesmo os carburados…tanto que em 2007 quando o TC 96 foi lançado uma das coisas que foi mexida foi o som, para deixar mais característico.

Como clássicas, elas também tem todo o lado ruim de uma moto que tinha uma tecnologia adequada a época do seu lançamento. Afinal certas características são incomparáveis com motos modernas.

1.2 – O modelo é raro – Esse argumento é muito utilizado e poucas vezes se traduz na realidade. Na década de 90 quem era responsável por trazer as motos era o Grupo Izzo e bastava-se entrar em uma das lojas e encomendar o modelo….se estivesse no lote a vir e não estivesse vendido, ok…. caso contrário fazia-se uma encomenda formal e demorava-se meses para a moto aparecer. Naturalmente, neste caso, gosto é gosto e nem todo mundo vai preferir o mesmo modelo de moto…claro que existiam alguns mais populares que outros.

Apareceram muitas Softail por aqui, como Heritage Classic, Fat Boy…..porém a Springer Softail e Softail Custom eram casos a parte….já que o gosto local é mais por motos de frente larga (FL).

Do ponto de vista da família Dyna….o carro chefe era a Super Glide e em sequência a Dyna Wide Glide….pouquíssimas Dyna Low Rider e Dyna Convertible surgiram por aqui…

As Sportster…claramente a 883 STD e as 1200 Custom e Sport eram o principal do mix…. dificilmente encontrarmos (883 Hugger – ao qual discutirei sobre ela no futuro, 883 Deluxe e Sportster 1200 STD). Ainda em 1998 existiu, na linha Sportster uma situação curiosa…que eram as Sportster brancas….que nunca foi cor de produção regular para civis…porém existia modelos policiais que tinham esta cor…e sabe-se lá por que, algumas apareceram por aqui e eram vendidas sob o argumento de “pintamos da cor que você quiser e colocamos o emblema/decalque que você quiser”

No caso das Touring, a raridade do momento eram as Tour Glide e posteriormente as Road Glide.

1.3 – As edições limitadas – Aqui tem a pegadinha…. vir poucas unidades do modelo não é o mesmo que ser uma moto edição limitada….Neste caso, existe exemplos bem únicos. A Heritage Springer (que muitos erroneamente chamam de Old Boy – um nome não oficial) vieram pouquíssimas unidades….O mesmo pode ser dito sobre a Bad Boy que durante os 3 anos de produção (1995 a 1997) foram trazidas 3 motos de cada cor disponível por ano….mas eram modelos de produção regular. As edições limitadas da década de 90 foram na verdade a Dyna Glide Sturgis de 1991 (que nunca veio), a Dyna Daytona (que tem 2 no Br), as Anniversary Edition de 1993, as Heritage Nostalgia de 1993 a 1996 (que em 1994 passou a chamar Heritage Special) e as Anniversary Edition de 1998….. tirando estes…não houve outras edições limitadas.

1.4 – O estado geral – É muito difícil encontrar motos Evolution e até mesmo Sportster da década de 90 em bom estado de conservação….uma parcela enorme está mau cuidada, e muito descaracterizada….e muitos agregam o fato de estar próxima ao estado original ao preço. Vou citar 2 exemplos aqui: Eu não estou no mercado para comprar motos, mas eventualmente me interesso por uma ou outra, mais movido pelo senso de nostalgia do que outra coisa….afinal…andei de Dyna Super Glide e Wide Glide nos anos 90.

Uma destas Dyna que fez parte da minha vida está anunciada, por pasmem, 45 mil reais…. com esta grana tira-se da concessionária uma Dyna Low Rider 2015 com garantia (tá certo que garantia da HD não é lá essas coisas..) e as amenidades modernas (6a. marcha, ABS, etc)…. Argumentos a parte em termos de qualidade, concordo plenamente que a Dyna 98 tem qualidade superior do que uma 2015 em termos de cromados, por exemplo e outros acabamentos.

Vi esta mesma Dyna anunciada hoje por, pasmem, US$ 180 mil (o anuncio original falava em R$ 45 mil para venda e 50 mil para troca…

Alguém pode argumentar da seguinte forma: “Ah, mas o vendedor é livre para pedir quanto quiser….e compra quem quer” – Sim, isto é um fato absoluto….mas convenhamos, que o preço é irreal. Vi também uma Sportster 883 STD 1992, exatamente igual aquela que andei aos meus 10 anos de idade (não a mesma moto pois a placa era outra)….por irreais 18.500 reais.

2 – Os Argumentos para “valorizar” a moto: Aqui é um festival de argumentos que muitos acabam caindo no conto…. além da história das edições limitadas….outros 2 argumentos que vejo com frequência

“A última das carburadas/ a ultima carburada montada” – este aqui, ao menos que se tenha um documento próprio da HD, comprovando que aquele modelo foi a última moto equipada com carburador a ser montada pela HD….não dá para acreditar.

“O último ano das carburadas” – Em 2006 foi o último ano das Sportster com este sistema de alimentação….e em 2003 para as Softail (em 2003 foi oferecido tanto motos carburadas como EFI)…. já as Touring passaram a contar com EFI desde 1997 (Ultra Classic e a partir de 98 as Road King Classic).

3 – A tabela FIPE: A tabela da FIPE é usada para algumas situações específicas, como cotação de seguros e na hora de você dar o seu veículo em troca em uma concessionária.. Para as motos mais modernas, muitos dos preços acompanham razoavelmente os valores avaliados…. porém as motos mais antigas acontece um fenômeno… A FIPE avalia algumas motos com preços irrisoriamente baratos, em alguns casos, como o da Sportster 92 que eu citei, a FIPE cota como valendo R$ 9.160,00…. honestamente, neste valor, é melhor não vender a moto. Acredito que o veículo atinja um mínimo de desvalorização….mas também rege um certo bom senso…cobrar o valor equivalente a uma moto 2006 por uma moto de 1992 é outra coisa. Ou cobrar por uma motocicleta 1998 o preço de uma zero km…

Enfim, eventualmente, com muita paciência o vendedor encontra um comprador para a sua moto, disposto a pagar o valor ou com uma negociação aceitável…

Mas ainda assim, acredito que devemos valorizar o nosso bem pelo o que ele é….e não com argumentos que possam induzir o comprador ao erro (edições limitadas, por ex.) ou que possam mostrar um certo ganho de vantagem sem comprovações (“a ultima carburada montada”) “

To each, its own” (parafraseando….cada um na sua…).

Abraços a todos!

6 comentários sobre “O Fenômeno Gourmet & Motociclismo

  1. Já ví em anúncios, o valor da moto R$ 36.000,00, sendo que tinha mais de R$ 20.000,00 em acessórios!!!! Dá vontade de falar pro vendedor eu compro a moto por R$ 16.000,00 e você pode ficar com os acessórios kkkkkkk

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    • Os acessorios sao um caso a parte… Tem valor para o vendedor (que pagou por eles)…. Mas na maioria das vezes nao interessam ao comprador

      Considero que acessorizar a moto é mais um gosto particular do que um “investimento” ja que na maioria das vezes esse dinheiro nao volta

      É mais inteligente vender a moto pelada e ir vendendo os peduricalhos a parte, se a intençao for recuperar a grana

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      • Já vi um amigo vender a pintura. O cara gostou da pintura e ele negociou tanque e paralama a base de troca.

        Tem sempre mercado para acessório, mas nunca vi mercado valorizando a moto por conta de acessórios.

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  2. Muitos reclamam do “mercado de usadas” por terem dificuldade em vender sua moto para pegar outra moto, zero ou não.

    A realidade é diferente: coloque um preço condizente com o modelo, a conservação e a manutenção que possa vir a ser feita e garanto que a moto vai ser vendida com rapidez.

    E dou como exemplo uma moto que me foi oferecida (foi assunto de postagem no blog) em agosto: uma Fat Boy 2001, em ótimo estado de conservação, carburadas e com 23000 kms rodados. Pneus em bom estado, longe da troca de tensores da corrente de comando e por R$30k.

    Ficou a venda por um dia. Comparar essa moto com a minha, cinco anos mais nova e com o triplo da rodagem é querer que a minha moto seja vendida por um valor maior por ser mais recente é pedir para ficar com a moto um bom tempo anunciada. E ainda posso usar o argumento gourmet de ter sido a “última Fat Boy com pneu 150 vendida no Brasil”. No dia em que peguei a moto já estavam no salão as Fats com pneu 200 e não seria mais entregues/fabricadas as de pneu 150. E como diria um amigo: e o kiko?

    Outro exemplo foi uma Dyna Convertible 95 vendida por R$25.000 por não ser mais o modelo original (havia sido bastante modificada), mas mesmo assim um modelo raro, com as peças originais para ser restaurada (custo) e documentação atestando origem e importação. Também não ficou a venda nem uma semana.

    O mercado só aceita esses valores absurdos porque sempre tem um sonhador em busca de um sonho de criança.

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